quinta-feira, 14 de julho de 2011

LIVRO DA TURMA ÍNDIA - EU QUERIA SER "EP", Por Manoel Julião

EU QUERIA SER  "EP" – AM-207 – MANOEL JULIÃO NETO

Quase todos os dias, no período da tarde, depois das aulas na EAMPE, os Aprendizes-Marinheiros (AM) eram liberados para praticar o esporte que quisesse, mas num desses dias eu estava pra baixo demais pensando em casa, não coloquei nem a roupa de esporte, fiquei com o uniforme 8.0.

Dirigi-me para campo de futebol para assistir meus colegas na pelada. Quando me aproximei  do ginásio de esportes, o CB-EP Assis me chamou para pegar no gol no  time dele de salão. Fizeram o times dos cabos (CB),e marinheiros (MN), contra o time dos sargentos (SG), só não tinham o goleiro. O time era eu no gol, CB- EP - Assis, MN-MA - Abigar ou Edgar, não lembro bem o nome, CB-EP - Araujo e MN-EP -Gonzaga (Pirata). O deles tinha os sargentos Barbosa, Wilton, Zé Nilton, Maurício e Saraiva.

Gonzaga e Araujo não jogavam nada ficaram na defesa, com poucos minutos os SG estavam ganhando de 3x0. SG Mauricio na banheira tinha feito os 3 gols. CB Araujo se afobou me tirou do gol e colocou o MN Gonzaga. Fiquei na defesa e estava descalço. A primeira bola que veio para o SG Mauricio, eu me adiantei peguei a bola corri um pouco e dei uma porrada na bola que o SG Barbosa que estava no gol nem se mexeu.

Eu senti firmeza e comecei a mandar no time, mandei o CB Assis e MN-MA - Edgar ficar na frente, que eu tomava conta da defesa. O SG Mauricio não teve mais o direito de pegar na bola, e ele começou a ficar nervoso, e eu na minha santa ingenuidade só fazia rir, quando tinha uma bola que precisava de um contato mais direto, eu pegava mais firme, e o Sargento não ganhava uma, numa bola dividida caímos os dois, um por cima do outro, ele levantou-se vermelho, partiu para cima de mim, que parecia que ia me bater, os outros sargentos, tiraram ele, e disseram:

- Você é doido Mauricio, para com isso.

O jogo acabou, ganhamos de 5x3. Não sabia eu que aquilo era término de um sonho. Até o término de nosso curso da EAMPE, o SG Maurício nunca mais me dirigiu a palavra, não me perturbava, mais não falava comigo.

Terminado o curso na EAMPE, fui designado para Natal, onde fui servir na Corveta Forte de Coimbra, e posteriormente, na Capitania dos Portos do Rio Grande do Norte. No final do ano de 1971, fiz exame de seleção e fui designado para cursar Educação Física (EP). Era o meu sonho.

No início de 1972 o Boletim de Notícias (BONO) vinha me designando para fazer exames físicos no Centro de Esporte da Marinha, nessa época era no Centro de Instrução Almirante Wandenkolk (CIAW). Esse ano estava voando, o meu preparo físico era excelente, jogava num time que disputa a segunda divisão em Natal/RN, e também jogava pelo time da Base Naval de Natal.

Fui para o Rio, peguei o Aviso no Cais da Bandeira e fui para CIAW, quando cheguei ao Centro de Esporte quem eu encontrei, SG Mauricio. Falou com todos os colegas da minha turma, menos comigo.

Fomos para o teste físico,  eu estava fazendo o teste  parecia que estava competindo. No período da tarde saiu o resultado, eu tinha sido reprovado. Fui até ao SG Mauricio, e perguntei:

- Fui reprovado em quê, Sargento?
- Em salto em distância.
- Deixe-me fazer novamente, Sargento. Eu lhe peço por favor.

Ele colocou a prancheta que estava na mão, em baixo do braço e disse:

 - Você não volta nem para fazer o psicotécnico.

E entrou para centro de Esporte sem olhar para trás.

Com o tempo veio a minha reclassificação para cursar Artilharia (AT). Fiz um requerimento para cursar Escrita e Fazenda (ES), fui atendendido e cursei em 1973.

Esse foi maior desgosto que tive dos homens que fiziam a Marinha daquele tempo.