sexta-feira, 29 de abril de 2011

LIVRO DA TURMA ÍNDIA - UMA DE EVANDRO - AM-320, por Manoel Julião

OS INDIANOS SE LEMBRAM DESSE FATO?
UMA DE EVANDRO AM-320, QUE TINHA O APELIDO DE ELEFANTE

Certa noite tocou silêncio na Escola, e começou uma algazarra no alojamento.Era um rizadeiro grande de alguns, cada um que contasse uma piada, mas não eram todos. Alguns estavam procurando conciliar o sono, mas não conseguiam por causa do barulho. De repente entra o oficial de serviço que era o tenente dentista Coutinho, acompanhado dos dois monitores de serviço, se não me engano era SG. Paulo e o CB Caetano, e deram ordem para todos descerem do jeito que estavam vestidos.

Naquela época ainda não existia essas cuecas modernas, a maioria era samba canção. Mandaram-nos ficar formados no recreio coberto. Levamos um belo de um esculacho dos monitores, quem estava bagunçando e quem não estava.

Evandro que naquela época era muito do marrento perguntou:

- Sargento posso ir ao sanitário?

- Negativo! Quem quiser urinar, quem quiser cagar faça ai onde está.

Com essa ordem que o SG deu, Evandro que estava quase em frente da televisão do recreio coberto, tirou o pênis e urinou ali mesmo na maior cara de pau.

Ficou um silêncio de velório. Passamos quase uma hora formados em posição de descansar. Depois fomos para o alojamento dormir, e o AM-320 foi lavar onde fez a sujeira.

domingo, 17 de abril de 2011

LIVRO DA TURMA ÍNDIA 1968-1969 DA EAMPE - Por Manoel Julião

                       
Julião - AM-207 e esposa


Manoel Julião Neto - AM-207, conhecido como Natal. Meu blog é www.manoeljuliao.blogspot.com.

Surpresa Agradável

No dia 25 de janeiro de 2011, Estava eu na Escola Municipal Cônego Antonio Antas, em Pedro Avelino/RN, onde sou diretor, quando adentrou a escola aquela pessoa, e apontando para mim disse:
- Você não está me conhecendo? Eu sei você quem é! Você é o AM-207 da Turma Índia da EAMPE  de 1968.
Aquela indagação me deixou surpreso, tudo que ele estava dizendo era verdade, só que eu não estava reconhecendo o cidadão. Então ele falou:
- Eu sou Gabriel!
Imediatamente, tudo me levou ao passado, a minha adolescência, e me veio todas as recordações  de volta. Pensava eu que nunca mais encontraria uma pessoa que fez parte de minha juventude.
Então ele me falou que os componentes da nossa turma, nos últimos dois anos, fizeram confraternizações nacionais, e, que em 2011, seria em Natal, e logo telefonou para Ângelo falando que tinha me encontrado. Logo em seguida, conversei um pouco com Ângelo, AM -013, e acertamos tudo. 
Naquele dia não consegui mais trabalhar, passou um filme na minha cabeça que me deixou totalmente fora de sintonia. Quando cheguei em casa, que fui contar a bela surpresa para minha esposa, ela foi logo me falando:
- Telefonou um amigo seu da Marinha, chamado Patriarca, querendo falar com você, às 18 horas ele vai telefonar novamente.
Coloquei a cabeça para funcionar. Quem era Patriarca? Não conseguia me lembrar de modo algum, já passava da meia noite, eu não conseguia dormir, quando veio tudo em minha  mente, era Waldir Xavier Patriarca um dos meus amigos da Turma.
Passei a noite em branco. Não consegui dormir. O dia clareou e eu não preguei olhos. Aquela querida Escola não saía da minha consciência, tudo estava vindo na minha mente como um filme, lembrando muitos de meus amigos que eu pensava que nunca mais encontraria.
Até o dia da confraternização, no sábado, dormi através de remédios, eu estava com felicidade e angustia, cheguei a chorar só em pensar o que encontraria no sábado.
O dia da confraternização foi um dos dias mais felizes da minha vida, eu extravasei tudo que tinha direito, chorei varias vezes abraçando os meus amigos, tomei um banho de felicidade.
Estou fazendo este blog para todos os componentes da Turma Índia, qualquer um pode postar o que quiser, o blog é de todos, vou passar o e-mail para alguns amigos que tenho endereço eletrônico e esses  passarão para os outros bravos da Turma Índia 1968-1969, da EAMPE.

LIVRO DA TURMA ÍNDIA 1968-1969 DA EAMPE - Por João Figueiredo


Figueiredo - AM-031 e esposa


João Figueiredo da Silva, natural de João Pessoa/PB, casado. Mestre em Teologia pelo Instituto Bíblico Betel Brasileiro, Docente em História Eclesiástica e Graduado em História pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Livros no prelo: “Globalização e Neopentecostalismo Brasileiro - Uma Análise Histórica-Teológica do Movimento e Sua Prática Doutrinária”; “Pedro Fazendeiro - História e Contributo Político e Social Para a História da Paraíba”; e “O Bairro do Oiti - Contos e Crônicas”.


O Banho de Detefon

Prestar concurso para a Escola de Aprendizes-Marinheiro de Pernambuco (EAMPE) no distante ano de 1968 era uma verdadeira euforia para a maioria dos jovens naquela época, uma vez que as opções de trabalho na região nordeste, se resumiam a vendedor de tecidos nas lojas do ramo ou, quando muito, tentar uma vaga em uma prefeitura. Neste caso, o felizardo seria mais um Barnabé a engrossar as fileiras da municipalidade.
Não foi à-toa que vibramos tanto quando foi divulgado o resultado dos exames no qual constavam os nossos nomes. A notícia correu rápido pelo bairro: “João de Dona Corina e Juca de Seu Joaquim (futuros AM 031 - Figueiredo e AM-088 – Inácio, respectivamente) passaram na prova para a Marinha! Pelo jeito eles vão viajar pra longe!”.
Fomos convidados a comparecer à Capitania dos Portos e ali nos informaram que deveríamos nos apresentar no dia 25 de junho daquele ano na EAMPE. Para isso, deveríamos levar dois calções mesclas, duas camisetas brancas sem mangas, uma toalha de banho, um cadeado e materiais higiênicos. A Marinha nos proporcionaria as passagens de João Pessoa para o Recife de trem. Informaram-nos ainda de que, quem pudesse comprar a passagem de ônibus, seria melhor, porque de trem era quase um dia todo de viagem.
 No dia marcado estávamos com a mochila pronta: a toalha de banho, os dois calções, as duas camisetas, uma saboneteira com um sabonete Lever, um barbeador, um tubo de creme dental Kolynos e um tubo de creme para cabelos Brylcreem, o substituto da brilhantina Glostora. Além de tudo isso, estávamos cheios de expectativas com a nova vida que se colocava diante de nossos caminhos. A partir de então, tudo seria novidade para nós.
Naquela manhã deixamos nossos familiares, pela primeira vez, com os olhos marejados, fato que se repetiria milhares de vezes, até que nos acostumássemos com a rotina de partidas e chegadas, características da vida de marinheiro. Em um ônibus da Empresa Viação Bonfim, seguimos até a cidade de Olinda para a apresentação na Escola.
Na portaria da Escola estava um grupo de Maiores – sargentos, cabos e marinheiros da guarnição a nos esperar com a relação dos aprovados e após checarem nossos nomes na lista, nos encaminharam para um pátio, em frente aos banheiros. Naquele pátio recebemos as boas vindas da Marinha. Ali eles nos ordenaram que deixássemos as mochilas em um canto e que tirássemos toda roupa. Ato contínuo, um cabo enfermeiro se aproximou de nós com uma bomba de Flitz, ordenou que levantássemos os braços e começou a aplicar Detefon em nossas axilas, depois nas virilhas e nas costas. Após esta boa vinda, veio à ordem para tomar banho e caminhar até a barbearia para o corte de cabelo. O leitor queira me desculpar o trocadilho, mas, apesar desta frustrante recepção, nenhum aluno ficou chateado.
Assim começou nossa carreira naval. Pelo seu início nós já poderíamos imaginar o que nos esperava nos quatorze meses seguintes do curso. O certo é que em nossa turma nunca existiu “parasitas”, já que nenhum aprendiz morreu com o Detefon de Marinha. Das duas uma: ou o Detefon era “vagabundo” ou os componentes da turma eram “porretas”. Eu fico com a segunda opção, porque os componentes da turma até hoje provam que são “porretas” mesmos.

 Figueiredo - AM-031

LIVRO DA TURMA ÍNDIA 1968-1969 DA EAMPE - Por Stephem Beltrão

      
                Beltrão - AM-423 e Sônia
      
Stephem Beltrão Correia Lima nasceu em 13/02/1951, em Vitória de Santo Antão/PE. Ingressou na Marinha do Brasil pela Escola de Aprendizes-Marinheiros de Pernambuco, em 22/07/1968 e foi para reserva no posto de capitão-tenente em 1998. É bacharel em Ciências Contábeis.  Atualmente, dedica-se à literatura e à música. É membro da União Brasileira de Escritores - Secção Pernambuco e União Brasileira de Compositores. Publicou os livros “Retratos do Tempo”, 2004, poesias, “Vida de Marinheiro”, 2007, relatos (parceria com colegas), e “Mesa de Bar”, 2009, histórias e curiosidades de bar. O mundo lhe presenteou três filhos e quatro netos. Acredita que as pessoas nascem para serem felizes. Reside em Recife.
E-mail: stephembeltrao@hotmail.com                               
Telefones: (81) 8862-7795 e (81) 9698-5918   



                   Ninguém Foge de Seu Destino
               
                  
Antes dos cinco anos de idade, meu pai já havia sumido. A casa da minha família foi devolvida ao proprietário e a vida ficou péssima. Éramos quatro: eu, minha mãe e dois irmãos mais novos. Somente reencontrei meu pai em 1982, em Pelotas/RS. Na época, eu era 3ºSG-MO, condutor do Contratorpedeiro “Mariz e Barros” - (D-26), o navio atracou no porto de Rio Grande e fui visitá-lo.
Aos oito anos, comecei a trabalhar na feira de minha cidade, por conta própria, aos dez, em um armazém em Bonança/PE e aos treze, em uma mercearia em Recife/PE. Somente interrompi a carreira de comerciário ao me apresentar na Escola de Aprendizes-Marinheiros de Pernambuco (EAMPE).
Na época das provas do Concurso de Admissão no Curso de Formação da EAMPE encontrava-me cursando a 6ª série, mesmo assim, passei nas provas de língua portuguesa, matemática e no exame psicotécnico. O teste pra valer começou na hora da inscrição no concurso, pois tive que procurar o cartório de minha cidade, às pressas, para tirar a segunda via da certidão de nascimento: a infância atarefada e nômade a tinha danificado. Velha, rasurada e ilegível, não foi aceita pela Escola. Outro problema foi a menoridade e a ausência do pai, o que obrigou um tio a assinar uma autorização, no Juizado de Menores. Essas pendências quase me fizeram perder o período da inscrição.  
Já no fim da jornada veio o pior: a reprovação nos exames de saúde. O capitão-de-corveta, chefe da junta médica que me examinou, depois de mandar soprar fortemente com a boca tampada pela mão direita, apalpou meus escrotos e avisou que não poderia me aprovar porque eu tinha varicocele - formação de varizes nas veias da região do escroto onde estão alojados os testículos, ocasionando infertilidade e atrofia testicular, alegando, inclusive que na Escola eu não conseguiria acompanhar a turma na calistenia. Concluiu orientando que a cura era fazer uma cirurgia.
Reprovado, esqueci a Marinha e comecei a traçar outros planos para a vida. Entretanto, para surpresa geral meu nome constou em todas as relações, como aprovado. Por tudo isso, minha chegada na Escola elevou muito minha auto-estima, pois tinha consciência que entrara onde muitos ficaram no lado de fora. Para mim, foi o prêmio de quem trabalhou durante o dia, estudou à noite e confiou.
No dia da apresentação, sexta-feira, 21 de junho de 1968, após a chamada nominal dos aprovados, o corte de cabelo “zero” para aqueles que se apresentaram cabeludos, a imunização com biocida e o banho coletivo, recebi dispensa com rígidas orientações para regressar na próxima terça-feira, às 07h15min, primeiro do dia útil após o feriado religioso de São João.   
          Ao regressar no dia determinado, o primeiro encontro foi com um monitor que ao receber nosso grupo, logo, preveniu:
- A moleza acabou, só fica na Marinha quem estuda, quero todo mundo “queimando”, aqui não é lugar de “escamado”, “onceiro”, “bobinho”, “bola sete” nem “rebarbado”.  Meu conselho pra quem quer continuar é “foi cinza é pra dar continência, foi amarelo é pra passar kaol”, quem veio pra Marinha pra contrariar a família pode desistir. 
Nada disso me desmotivou, nem a perda da cabeleira a moda Roberto Carlos. Sentia-me como quem tivesse auferido um presente do destino. Agora estava em jogo à mudança que a Marinha podia me proporcionar.
De imediato, a nova vida me ofertou 521 irmãos, oriundos de Recife, interior de Pernambuco e de outras cidades e estados. A maioria cultura diferente da minha; mas, de comum, o principal: a juventude.
Logo, começou a rotina escolar. o período de adaptação; a entrega de uniformes; os cerimoniais à Bandeira Nacional, às 08 horas, hastear e, ao pôr do sol, arriar; as aulas; o estudo obrigatório; os exercícios físicos e a prática de esportes; os serviços diários e noturnos e os serviços de rancho; a ordem unida... Os desfiles militares na Avenida Conde da Boa Vista, o primeiro, no dia da Pátria, 07 de setembro de 1968 e o segundo, em 07 de setembro de 1969. Da alvorada ao toque de silêncio tudo era transformação!          
A comida era variada e balanceada, precisava apenas um pouco mais de tempero, entretanto, foi responsável pela desistência de alguns colegas. Neste tocante, na chegada, já aprendi que “malhar” ou “dispensar” rancho dava cadeia. 
A viagem de adestramento no Navio Transporte “Ary Parreiras” deu o sinal de que o mar nos esperava. Visitamos Natal/RN, Fortaleza/CE, São Luís/MA e Belém/PA. Enfim, tudo que jamais pensei em fazer naquela idade. 
Continuando o mundo surpreendente da Escola, encontramos ainda piscina, salão de recreio, sessões cinematográficas no ginásio de esportes, cultos ecumênicos, banda musical, banda marcial; equipes de futebol de campo e salão, vôlei, basquete, natação, judô, boxe, atletismo, remo, apito; acompanhamento médico e dentário; e mais uma imensidão de atividades.
Não participei de nenhuma equipe... Até para o pelotão elétrico não fui selecionado. Acho que isso se deu pela timidez e a curta infância, alguns diziam que eu pertencia a “certa equipe”, mas, vou me omitir a dizer qual.

Gostaria de confessar aos Eternos Adolescentes da Turma Índia que aproveitei o máximo a nossa Escola - a inesquecível Faculdade. Complementei meus conhecimentos de um modo geral, troquei muitas figurinhas com os estimados Indianos, escutei e coloquei em prática as orientações dos mestres civis e monitores militares, fortaleci meus propósitos pessoais baseado nos exemplos da sua tripulação, e me diverti bastante, naquela doce época da jovem guarda, da brilhantina, dos "assustados", da cuba-libre e dos namoros. 


                     De Moleque a Aprendiz
                  
                      Enquanto adolescente-criança,
                    Noite de sonhos, dia de moleque,
                    Vida de bola, tempo de festança,
  Bolas de gude, pipa, pião,
  Álbum de figurinhas, jogos de botão...
  Doce com brigas na volta da escola,
  Encontro com o almoço,
                    Corpo no sofá, cabeça na rua,
  Pé no campo de futebol, olho no rio,
                    Costas no sol, pensamentos na lua.
                    Nisso chegou o dia do serviço militar,
  Servir à Marinha do Brasil,
  Cumprir o dever de todo brasileiro,
  Aprender a defender a Pátria!
                    Na Escola de Aprendizes,
                    Foi grumete e marinheiro,
  Nas boas vindas do comandante,
                    A corneta comandou o cerimonial
  E o canto do Hino Nacional.
                    - Carregar! Apontar! Fogo!
                    Vigoroso, o sargento ordena.
                    - Cortar grama, encerar o piso,
                    Serenamente o cabo diz.
 E assim, vibrante e empolgado
                   O moleque virou aprendiz.

Homenagem a todos os monitores, instrutores e professores das Escolas de Aprendizes-Marinheiros da Marinha de Brasil.
(Poema da coletânea “Vida de Marinheiro”, 2007, Editora Elogica, Pernambuco.)

Para concluir, gostaria de registrar nessa coletânea que parti da EAMPE para servir a Marinha levando na bagagem preparação para ser um bom Marinheiro, na cabeça, a esperança e no coração a amizade dos irmãos Indianos que guardo comigo para sempre. Foram trinta anos de efetivo serviço cheios de espinhos e rosas; decepções, realizações e emoções, jamais esquecidas, que, com muito prazer, descrevo minuciosamente na nossa coletânea “Vida de Marinheiro”. VIVA A TURMA ÍNDIA 1968-1969, DA EAMPE – O ORGULHO DA MARINHA DO BRASIL!

Beltrão – AM-423